quinta-feira, 1 de julho de 2010

Cheiro de infância



Não me lembro quando dera o primeiro salto, mas em minha meninice adorava correr pelo sítio dos meus avós.

Embora fosse delicada menina de cabelos compridos, correndo descalça me sentia como um pequeno Zulu.

Os pés iam se tornando mais ásperos a cada novo dia que das minhas férias se passava. Nada mais me machucava, nem pedregulho, cascalho, espinho de roseira ou estrepe. Contudo, essa rispidez não lhes impedia as cócegas provocadas pela grama.

A aspereza nos pés tornava a menina branca e alérgica da cidade numa criaturazinha forte, e os momentos de corrida pela pastagem a transmutavam num pequeno animalzinho selvagem.

À tardinha era o melhor horário para metamorfosear-me. O sol iluminava-me a face rosada e sensibilizava minhas narinas para sentir o cheiro do vento misturado ao cheiro da terra, das árvores, dos frutos (manga-espada), das flores campestres e de mais tantos e tantos cheiros misturados que se tornavam um só cheiro... Impossível descrevê-lo.

Cheiro de infância. Fragrância única, que eu, na minha inocência de criança, já sabia que quando acabasse não encontraria outro frasco nos armazéns ou perfumarias. Sabia, também, que economizá-la não pouparia a da velocidade do tempo que seca todas as fragrâncias, por isso, corria, saltava e me embriagava com aquele cheiro bom até ficar tonta de tantos aromas.

Quando as férias terminavam minha mãe esfregava meus pés com bucha de lavar roupa e calçava-me os sapatos. O animalzinho selvagem voltava a ser passarinho mudo, preso na gaiola.

O cheiro? Embora o frasco tenha acabado, ele ficou guardado em algum lugar. Ainda não descobri o lugar: se na mente, no coração, ou em algum cantinho dos pulmões...



Aline Emanueli

3 comentários:

  1. quero ser o primeiro a estrear esse blog, que com certeza tem tudo pra ser um sucesso!!!...Parabéns amiga, está tudo muito lindo, suas poesias e pensamentos vem do fundo do seu coração...um lugar de pensamentos bons!!!



    UrSo....

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  2. Parabéns! Adorei o seu blog! Vc conseguiu me remeter a pessoa q fui um dia. Pena q naquele tempo não existia blogs... kkk Hj não sei se teria muita coisa a dizer, mas, ainda sei apreciar o que é bonito... e vc é... dentro e fora!!!

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