terça-feira, 13 de julho de 2010


Descobri que pele tem vida. "Oh que grande descoberta!", exclamará os lábios que me lêem. Realmente, não parece novidade, não é necessário estudar muito para saber. Criança travessa, por exemplo, descobre isso bem cedo, e como há muito deixei as travessuras de menina havia esquecido. Então o que me aconteceu fora, sim, uma grande descoberta, pois tornar a lembrar é sempre descoberta...
Embora seja ela o maior e mais pesado dos órgãos, a pele vive tão exposta que esquecemos que ela também é um órgão.
O que escondemos é sempre, ou quase sempre, mais valioso, e por ser mais valioso é sempre mais lembrado.
Os rins são alguns dos meus tesouros escondidos. Essa semana a ultrassonografia revelou-me que eles levam dentro de si outro tesouro, uma pedra, quiçá fosse valiosa, uma esmeralda desmaiada de azul, o que me encantaria, sobretudo pela cor.
Como dói esse tesouro dentro dos meus tesouros. A cada fisgada eles gritam-me "Estamos vivos!".
O médico disse que terei que beber muita água para que minha esmeralda desmaiada de azul nasça. Gosto de água, dos lagos, rios, mares, da chuva, do orvalho e sereno, porém colocar água dentro sempre me fora uma dificuldade.
Deixemos minha esmeralda desmaiada...onde estávamos mesmo? Ah, minha pele tem vida.
Ao acordar num dia desses em que não se vê na totalidade o ser, em que só se existe por dentro, como um fantasma (fantasmas só existem por dentro , por isso não os vemos), saí de pijama e indolência para o quintal.
A secreção nos olhos, ainda por lavar, impedia-me de ver. Quando os olhos se fecham a pele passa a enxergar, A pele dos namorados não precisa sequer de lentes, ela enxerga melhor que as demais, isto porque os namorados se acariciam e se beijam muito e sempre de olhos fechados.
Parece estranho descobrir de olhos fechados. Cientistas, por exemplo, não descobrem de olhos fechados. Não me enquadro na categoria dos intelectuais... Já descobri tantas coisas de olhos fechados.
De olhos fechados minha pele enxergou os dedos do sol, que pela manhã são mornos. Eles acariciaram meu rosto. Suas carícias, pela manhã, são tão suaves quanto carícias de algodão, que só se sente de olhos bem fechados, apertados como quando se está com medo.
De manhã o hálito do sol também é morno. Minha pele pode enxergar seu calor e a sensação foi parecida com a de quando eu esperava em dia frio, ao lado do fogão de lenha, o milho assado que minha avó preparava... espiga de milho quentinha da cor do sol.
Ao ser namorada pelo sol descobri que minha pele tem vida e essa descoberta me levou a tantas descobertas. Algumas no meu esquecimento redescobertas, outras que mesmo só agora descobertas é melhor continuarem encobertas.


Aline Emanueli

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